terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

AMOR EM PAZ

Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar

Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz

Vinicius de Moraes
Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

Pablo Neruda

CARTA DE UM PROFESSOR

Porto Alegre (RS), 16 de julho de 2011.

Caro Juremir (CORREIO DO POVO/POA/RS)

Meu nome é Maurício Girardi. Sou Físico. Pela manhã sou vice-diretor no Colégio Estadual Piratini, em Porto Alegre, onde à noite leciono a disciplina de Física para os três anos do Ensino Médio. Pois bem, olha só o que me aconteceu: estou eu dando aula para uma turma de segundo ano. Era 21/06/11 e, talvez, “pela entrada do inverno”, resolveu também ir á aula uma daquelas “alunas-turista” que aparecem vez por outra para “fazer uma social”. Para rever os conhecidos.


Por três vezes tive que pedir licença para a mocinha para poder explicar o conteúdo que abordávamos.


Parece que está fazendo um favor em nos permitir um espaço de fala. Eis que após insistentes pedidos, estando eu no meio de uma explicação que necessitava de bastante atenção de todos, toca o celular da
aluna, interrompendo todo um processo de desenvolvimento de uma ideia e prejudicando o andamento da aula. Mudei o tom do pedido e aconselhei aquela menina que, se objetivo dela não era o de estudar, então que procurasse outro local, que fizesse um curso à distância ou coisa do gênero, pois ali naquela sala estavam pessoas que queriam aprender' e que o Colégio é um local aonde se vai para estudar. Então, a “estudante” quis argumentar, quando falei que não discutiria mais com ela.



Neste momento tocou o sinal e fui para a troca de turma. A menina resolveu ir embora e desceu as escadas chorando por ter sido repreendida na frente de colegas. De casa, sua mãe ligou para a Escola e falou com o vice-diretor da noite, relatando que tinha conhecidos influentes em Porto Alegre e que aquilo não iria
ficar assim. Em nenhum momento procurou escutar a minha versão nem mesmo para dizer, se fosse o caso, que minha postura teria sido errada. Tampouco procurou a diretoria da Escola.


Qual passo dado pela mãe? Polícia Civil!... Isso mesmo!... Tive que comparecer no dia 13/07/11, na 8.ª (oitava Delegacia de Polícia de Porto Alegre) para prestar esclarecimentos por ter constrangido (“?”) uma adolescente (17 anos), que muito pouco frequenta as aulas e quando o faz é para importunar, atrapalhar seus colegas e professores'. A que ponto que chegamos? Isso é um desabafo!... Tenho 39 anos e resolvi ser professor porque sempre gostei de ensinar, de ver alguém se apropriar do conhecimento e crescer. Mas te confesso, está cada vez mais difícil.


Sinceramente, acho que é mais um professor que o Estado perde. Tenho outras opções no mercado. Em situações como essa, enxergamos a nossa fragilidade frente ao sistema. Como leitor da tua coluna, e sabendo que abordas com frequência temas relacionados à educação, ''te peço, encarecidamente, que
dediques umas linhas a respeito da violência que é perpetrada contra os professores neste país''.


Fica cristalina a visão de que, neste país:


Ø NÃO PRECISAMOS DE PROFESSORES


Ø NÃO PRECISAMOS DE EDUCAÇÃO


Ø AFINAL, PARA QUE SER UM PAÍS DE 1° MUNDO SE ESTÁ BOM ASSIM


Alguns exemplos atuais:

· Ronaldinho Gaúcho: R$ 1.400.000,00 por mês. Homenageado pela “Academia Brasileira de Letras"...

· Tiririca: R$ 36.000,00 por mês. Membro da “Comissão de Educação e Cultura do Congresso"...


TRADUZINDO: SÓ O SALÁRIO DO PALHAÇO, PAGA 30 PROFESSORES. PARA AQUELES QUE ACHAM QUE EDUCAÇÃO NÃO É
IMPORTANTE: CONTRATE O TIRIRICA PARA DAR AULAS PARA SEU FILHO.


Um funcionário da empresa Sadia (nada contra) ganha hoje o mesmo salário de um “ACT” ou um professor iniciante, levando em consideração que, para trabalhar na empresa você precisa ter só o fundamental, ou seja, de que adianta estudar, fazer pós e mestrado? Piso Nacional dos professores: R$ 1.187,00… Moral da história: Os professores ganham pouco, porque “só servem para nos ensinar coisas inúteis” como: ler, escrever, pensar, formar cidadãos produtivos, etc., etc., etc...


SUGESTÃO: Mudar a grade curricular das escolas, que passariam a ter as seguintes matérias:


Ø Educação Física: Futebol;


Ø Música: Sertaneja, Pagode, Axé;


Ø História: Grandes Personagens da Corrupção Brasileira;


Biografia dos Heróis do Big Brother; Evolução do Pensamento das "Celebridades"


Ø História da Arte: De Carla Perez a Faustão;


Ø Matemática: Multiplicação fraudulenta do dinheiro de campanha;


Ø Cálculo: Percentual de Comissões e Propinas;


Ø Português e Literatura?... Para quê?...


Ø Biologia, Física e Química: Excluídas por excesso de complexidade.


Está bom assim? ... Eu quero mais!...


ESSE É O NOSSO BRASIL...


Vejam o absurdo dos salários no Rio de Janeiro (o que não é diferente do resto do Brasil)


Ø BOPE - R$ 2.260,00....................... para ........ Arriscar a vida;


Ø Bombeiro - R$ 960,00.....................para ........ Salvar vidas;


Ø Professor - R$ 728,00.....................para ........ Preparar para a vida;


Ø Médico - R$ 1.260,00......................para ........ Manter a vida;


E o Deputado Federal?...R$ 26.700,00 (fora as mordomias, gratificações, viagens internacionais, etc.,
etc., etc., para FERRAR com a vida de todo mundo, encher o bolso de dinheiro e ainda gratificar os seus
“bajuladores” apaniguados naquela manobrinha conhecida do “por fora vazenildo”!).


IMPORTANTE:

Faça parte dessa “corrente patriótica” um instrumento de conscientização e de sensibilização dos nossos representantes eleitos para as Câmaras Municipais, Assembleias Estaduais e Congresso Nacional e, principalmente, para despertar desse “sono egoísta” as autoridades que governam este nosso maravilhoso
país, pois eles estão inertes, confortavelmente sentados em suas “fofas” poltronas, de seus luxuosos gabinetes climatizados, nem aí para esse povo brasileiro. Acorda Brasília, acorda Brasil!...

P.S.: Divulgue logo esta carta para todos os seus contatos. Infelizmente é o mínimo que, no momento,
podemos fazer, mas já é o bastante para o Brasil conhecer essa "pouca vergonha". As próximas eleições
estão chegando!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

REDAÇÃO CAMPEÃ NO CONCURSO UNESCO

Uma jovem com idéias que não passam pelas mentes de muitos jovens.

REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA VENCE CONCURSO DA UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES

Imperdível para amantes da língua portuguesa, e claro também para Professores.
Isso é o que eu chamo de jeito mágico de juntar palavras simples para formar belas frases.

Tema:'Como vencer a pobreza e a desigualdade'
Por Clarice Zeitel Vianna Silva
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - RJ

'PÁTRIA MADRASTA VIL'

Onde já se viu tanto excesso de falta?
Abundância de inexistência...
Exagero de escassez...
Contraditórios?
Então aí está!
O novo nome do nosso país!
Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe.
Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil, está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira.'
Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.
E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir.
Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa.
A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade.
Uma segue a outra...
Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição.
Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar.
E a educação libertadora entra aí.
O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito.
Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura.
As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)...
Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não administra?
De que serve uma mãe que não afaga?
E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo.
Cada um por todos.
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas.
Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil?
Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil?
Ser tratado como cidadão ou excluído?
Como gente... Ou como bicho?

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel Vianna Silva, 26, estudante que termina Faculdade de Direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade.' A redação de Clarice intitulada 'Pátria Madrasta Vil', foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO.

Por favor, divulguem.

Aos poucos iremos acordar este "BraSil".

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Defenestração

Certas palavras têm o significado errado. Falácia, por exemplo, devia ser o nome de alguma coisa vagamente vegetal. As pessoas deveriam criar falácias em todas as suas variedades. A Falácia Amazônica. A misteriosa Falácia Negra. Hermeneuta deveria ser o membro de uma seita de andarilhos herméticos. Onde eles chegassem, tudo se complicaria.
- Os hermeneutas estão chegando!
- Ih, agora é que ninguém vai entender mais nada...
Os hermeneutas ocupariam a cidade e paralisariam todas as atividades produtivas com seus enigmas e frases ambíguas. Ao se retirarem deixariam a população prostrada pela confusão. Levaria semanas até que as coisas recuperassem o seu sentido óbvio. Antes disso, tudo pareceria ter um sentido oculto.
- Alo...
- O que é que você quer dizer com isso?
Traquinagem devia ser uma peça mecânica.
- Vamos ter que trocar a traquinagem. E o vetor está gasto.
Plúmbeo devia ser um barulho que o corpo faz ao cair na água. Mas nenhuma palavra me fascinava tanto quanto defenestração. A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:
- Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas... Ah, algumas defenestravam. Também podia ser algo contra pragas e insetos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais. Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerravam os documentos formais? "Nestes termos, pede defenestração..." Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-la usado uma ou outra vez, como em:
- Aquele é um defenestrado.
Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada, era a palavra exata. Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurelião (dicionário do Aurélio Buarque) que não me deixa mentir. ¿ Defenestração¿ vem do francês ¿defenestration¿. Substantivo feminino. Ato de atirar alguém ou algo pela janela. Ato de atirar alguém ou algo pela janela! Acabou a minha ignorância mas não a minha fascinação. Um ato como este só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o ato de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada abaixo. Por que, então, defenestração? (...) Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada para desencorajar a defenestração. Toda a arquitetura moderna, com suas paredes externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reação inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada. Na lua-de-mel, numa suíte matrimonial no 17º andar.
-Querida...
-Mmmm?
- Há uma coisa que preciso lhe dizer...
-Fala, Amor
-Sou um defenestrador.
E a noiva, em sua inocência, caminha para a cama: Estou pronta para experimentar tudo com você! TUDO! Uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponta para cima e babulcia:
- fui defenestrado...
Alguém comenta:
- Coitado. E depois ainda atiraram ele pela janela?
Agora mesmo me deu uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassá-lo e defenestrar esta crônica. Se ela sair é porque resisti.

Crônica - Luís Fernando Veríssimo

Luiza para Presidente

Guilherme Fiúza, O Globo

Luíza foi ao Canadá para provar que a opinião pública brasileira virou geleia. A frase de um comercial imobiliário na Paraíba que se espalhou pelo Brasil inteiro é um divisor de águas na cultura de massa. Até então, uma mensagem insignificante podia ganhar dimensão pública por contágio. A grande novidade é que, depois de Luíza, o contágio não precisa mais de mensagem. Nem insignificante. Em questão de horas, um país inteiro passou a repetir essas seis palavras: "Menos Luíza, que está no Canadá".
Qual era a charada? Nenhuma. Que código, que sentido subliminar, ou pelo menos que estranheza justificava tão irresistível propagação? Ninguém saberia responder. Mas nem seria preciso resposta, porque ninguém perguntava. O que explicava a repetição era a repetição. O espetáculo da inércia mental nunca tinha sido tão exuberante. Quase meio século atrás, outras seis palavras aparentemente sem sentido se espalharam pelo mundo: "Lucy in the sky with diamonds." A diferença é que John Lennon não estava tentando vender apartamento para emergentes que podem mandar a filha estudar no Canadá. Estava escrevendo um capítulo da contracultura — e Lucy teria despencado do céu em dois minutos se o seu único atrativo fosse uma virose no Twitter.
Na época de Lucy, Luíza não seria nada. No Brasil de hoje, ela poderia ser presidente da República. O furacão Luíza veio expor, de forma quase cruel, a precariedade dos símbolos que o senso comum consagra. A menina real, Luíza Rabello, não tem nada com isso — ou melhor, não tinha. Agora terá, pela importância que o público passou a lhe atribuir a partir de... Nada. Circularam rumores de que Luíza estará na próxima edição do Big Brother. Se ela pensar grande, poderá ir direto para Brasília. E nem precisará de um padrinho popular, que repita seu nome exaustivamente aos quatro ventos. A internet já fez isso por ela, sem precisar de palanque, voz rouca, suor e lágrimas providenciais.
Fora isso, no Brasil de 2012, os requisitos para se estar no BBB ou na Presidência da República são até parecidos. Na Presidência convém falar menos. E, se não tiver nada de relevante a dizer, não tem problema. Basta espalhar no Twitter que Luíza do Canadá é uma grande gestora, que o povo acredita. Mesmo se ela tiver sido apenas uma militante política com passagem opaca por cargos públicos, todos graças a indicações partidárias? Perfeitamente. Os fatos, hoje, são um detalhe. O que o senso comum respeita mesmo é a repetição.
E não se preocupe, Luíza, se você gastar todo o seu primeiro ano de governo enxugando gelo do seu próprio caos administrativo. Mesmo se você bater o recorde de ministros demitidos por acusação de fraude. Aquela imagem da supergerente que sabia o que se passava em todos os ministérios serviu só para te eleger. Agora você é uma paraquedista, recém- chegada do Canadá, pronta para passar o país a limpo com o detergente da ética.
Se a faxina bombar no Twitter, você pode até terminar o seu primeiro ano de mandato com aprovação recorde. Aí você poderá continuar amiga de todos esses ministros que você nomeou e tentou proteger, mesmo depois de acusados de garfar o país. Quando eles caírem de podres, elogie- os publicamente e mantenha as boquinhas com os grupos deles. Ninguém vai notar. "Fisiologismo" não tem a menor chance no Twitter. Enquanto Luíza prepara sua candidatura, poderá aprender um pouco observando o governo atual. Tratase de um governo detalhista. Se a opinião pública acredita nas mensagens que se repetem — e isso já é uma mão na roda — por que não ir além, escolhendo as mensagens que ela deve repetir?
Isso é muito importante, porque a imprensa livre, além de bisbigra lhoteira, se mete em assuntos demais, o que pode confundir a mensagem que o povo precisa ouvir. As manchetes dos últimos seis meses, totalmente descontroladas, quase puseram o governo popular no banco dos réus — com histórias soturnas de uso sistemático da máquina pública para engordar esquemas políticos. Mas os ideólogos do governo não descansarão enquanto não protegerem o país dessas linhas cruzadas da mídia livre. E Luíza está com sorte, porque acaba de ser lançada uma grande ideia, para ela anotar em seu caderno de campanha.
Em discurso no Fórum Social Mundial, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, defendeu a criação de uma mídia para a classe C. "Toda essa gente que emerge ficará à mercê da ideologia disseminada pelos veículos de comunicação existentes?", questionou o ministro, conclamando o governo a "radicalizar a democracia" parindo uma mídia nova. A plateia exultou com a proposta governamental de organizar melhor o que a opinião pública deve assimilar, ou melhor, repetir. Os dias que se seguiram foram de grande excitação entre os companheiros. Todo mundo festejou a ideia. Menos Dilma, que estava em Cuba.

Guilherme Fiuza - O Globo - 04/02/2012